Faz quase quatro anos que surgiram informações sobre o desenvolvimento de um motor a etanol revolucionário dentro das instalações da Fiat. Era o chamado motor E4 seria focado na alta eficiência energética na queima do combustível vegetal. Agora este projeto vai sair do papel e será usado para otimizar seus futuros carros híbridos nacionais.
Será um motor turbo, com injeção direta e melhorias termodinâmicas pensadas para queimar apenas etanol e da forma mais eficiente possível. Esse será o primeiro passo para redução das emissões de CO2 desde o lançamento da família de motores GSE e ganhará o mercado antes mesmo das versões eletrificadas dos motores 1.0 e 1.3, que já haviam sido confirmados.
A informação é do COO da Stellantis para a América do Sul, Antonio Filosa. Em conversa com jornalistas do Brasil, o executivo apresentou o caminho tecnológico que será seguido por todas as marcas do grupo que fabricam no Brasil (leia-se Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën e, em breve, Ram) para alcançar uma meta de redução de emissões de CO2 até 2030 em 50%. Esse caminho passa pela eletrificação e faz parte de um projeto chamado BioElectro, que terá alcance global.
Se o primeiro passo será uma aposta forte no etanol como combustível principal em motores a combustão, o ápice será o uso do etanol em células de combustível para gerar energia para motores elétricos. Seria um sistema parecido com o proposto pela Nissan, mas que ainda depende de muita pesquisa para ser aperfeiçoado e ter custo competitivo.
O que está mais que certo é que a eletrificação dos Fiat, Jeep, Citroën e Peugeot nacionais terá um motor a combustão movido a etanol como pilar principal. Contudo, os motores flex não serão descartados.
Filosa justifica a escolha: “Do plantio [da cana-de-açúcar] até o uso [como etanol], as emissões de CO2 de um carro a etanol são equivalentes às de um carro elétrico que roda na Europa”. Essa é uma conta que considera, também, a origem da energia usada para recarregar os carros elétricos. “Podemos falar que o Brasil tem hoje, por equivalência, a maior frota elétrica do mundo.”, completou destacando que mesmo carros mais antigos em circulação no Brasil ou são flex ou usam pelo menos 27% de etanol misturado na gasolina.
O executivo reforça uma informação que já era conhecida: a eletrificação de todos os carros da Stellantis fabricados no Brasil será feita com componentes fabricados no Brasil.
“Quando se fala em tecnologia, vamos localizar a tecnologia do etanol e componentes de eletrificação, da mais leve a mais pesada. Tudo com desenvolvimento local”, ponderou lembrando que a empresa tem 1500 engenheiros na fábrica de Betim (MG) e outros 200 em Goiana (PE), locais onde concentra suas operações de desenvolvimento na América do Sul.
De acordo com Filosa, os próximos passos são para curto e médio prazo. “Leva entre 18 e 24 meses para desenvolver um carro novo. […] As primeiras criações serão apresentadas no fim deste ano e os lançamentos virão nos próximos anos”.
Logo, é muito provável que vejamos um carro a etanol da Stellantis ainda em 2023, ainda que seja um protótipo. Mas não se surpreenda caso a fabricante escolha algum de seus modelos para lançar uma versão movida apenas a etanol, servindo de laboratório para seu projeto.
Primeiros motores híbridos nacionais
A Stellantis não pretende lançar um carro híbrido leve no Brasil antes que os componentes tenham produção local. Isso vale do motor à bateria, passando pelos softwares de gerenciamento dos motores. Os motores que serão eletrificados são justamente da família GSE, que já foram desenvolvidos considerando essa evolução e já têm versões híbridas na Europa.
No Velho Continente, o sistema mais simples é de 12V, e combina o três-cilindros 1.0 aspirado a um elétrico com 5 cv, inclusive em versões com câmbio manual. O outro, mais robusto, trabalha com 48V e tem 20 cv e 5,6 kgfm para auxiliar o novo 1.5 turbo de 130 cv e 24,5 kgfm.
Por aqui, primeira movimentação para o lançamento de carros nacionais com tecnologia híbrida leve aconteceria entre 2024 e 2025. Dos 43 lançamentos previstos pela Stellantis até 2025, sete serão carros eletrificados. E informações obtidas por QUATRO RODAS dão conta de que Pulse e Fastback serão os primeiros híbridos nacionais da Fiat, já no ano que vem.
Convém explicar que para transformarem os motores 1.0 e 1.3 turbo em híbridos leves será adicionado um motor/gerador que substitui o alternador e o motor de partida. Ele é ligado ao virabrequim via correia dentada não apenas dá um fôlego extra quando o motor é exigido, mas também pode permitir desligá-lo em descidas, recuperar energia da frenagem e auxiliar sistemas que eventualmente roubam desempenho do carro. A tendência é que o sistema melhore não apenas as emissões, mas também o consumo e o desempenho.
Também é interessante notar que a Stellantis também já fala em carros híbridos plenos nacionais. São híbridos com motor elétrico capaz de impulsionar o sozinho ou dar um suporte maior ao motor a combustão (que, neste caso, será movido apenas a etanol) por ter uma bateria um pouco maior, recarregada pela energia das frenagens e reduções ou pelo próprio motor a combustão. A empresa quer chegar em 2030 com 20% de eletrificação dos seus carros vendidos no Brasil.
O passo seguinte, antecipando as células de combustível, será a fabricação de carros elétricos no Brasil.
Como era o projeto do motor a etanol?
A ideia de otimizar a queima do álcool em motores turbo dentro da fábrica de Betim (MG) começou há pelo menos 10 anos ainda com o 1.4 T-Jet que equipou Punto, Linea e Bravo. Por volta de 2019 esse projeto foi retomado antes mesmo dos motores 1.3 GSE Turbo chegarem ao mercado e teria uma “patente nacional” com o objetivo de “reduzir o gap de consumo do etanol em relação à gasolina, que é de 30% atualmente”.
O que se sabia até agora é que o projeto do motor E4 acabara servindo como um laboratório para a criação da versão flex do motor 1.3 GSE turbo. Agora, porém, ele aparenta estar com a missão de se tornar o salvador desta família de motores a combustão e é bem provável que ganhe uma versão com três cilindros baseada no 1.0 GSE turbo.
O objetivo seria transformá-lo o suficiente para elevar sua eficiência com etanol a um patamar ainda não visto — e que motores flex estão longe de entregar, pois buscam um equilíbrio de eficiência entre o etanol e a gasolina. Imagine um carro a álcool com rendimento por litro equivalente ao da gasolina. É isso o que buscam.
Quatro anos atrás os mais empolgados na Fiat diziam que o projeto do motor E4 poderia garantir a sobrevida dos motores a combustão por mais 50 anos. Parece que agora há chances de isso realmente acontecer, ainda que apenas no Brasil.
Fonte: Quatro Rodas
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