PIB da agropecuária deve crescer 8% este ano, e o PIB total do País deverá aumentar algo em torno de 1%, segundo o Ibre/FGV
A colheita da safra brasileira de grãos está acontecendo. Em todos os Estados produtores, milhares de colhedeiras são acionadas assim que o sol desponta no horizonte, seus operadores substituindo em novo turno quem trabalhou à noite enquanto o orvalho não umedeceu as vagens e as espigas. Os roncos dos motores de máquinas de várias marcas e tamanhos enchem de entusiasmo e orgulho os produtores rurais que plantaram a maior safra de grãos de todos os tempos no País.
Uma curiosidade: a primeira vez que o Brasil colheu 100 milhões de toneladas de grãos foi em 2001. Isto quer dizer que demoramos 500 anos para chegar a este número. Muito trabalho e muita luta permitiram dobrar este volume 14 anos depois: em 2015, colhemos 200 milhões! E agora, apenas 8 anos passados, mais 100 milhões de toneladas, e pela primeira vez superaremos os 300 milhões.
E 100 milhões é apenas o aumento da produção em 8 anos. Que outro país do mundo conseguiria essa façanha, sem nenhuma estratégia estabelecida, sem plano de metas, mas apenas com a vontade inquebrantável dos agricultores, as tecnologias geradas e algumas políticas públicas, como o crédito rural?
De 1990 até este ano, a área plantada com grãos dobrou (cresceu 103%), enquanto a produção poderá aumentar 430%. Se estes números impressionam, há outros mais fantásticos: hoje são cultivados no Brasil cerca de 77 milhões de hectares com grãos, considerando que em grande parte do território são semeados grãos duas vezes por ano, e até três, onde há irrigação. Pois bem: se tivéssemos hoje a produtividade por área de 1990, seria preciso plantar mais 126 milhões de hectares para colher a safra de 2023.
Segundo o Ibre/FGV, o PIB da agropecuária deve crescer 8% este ano, e o PIB total do País deverá aumentar algo em torno de 1%. E tem mais: em 2000, o agronegócio brasileiro exportou US$ 20 bilhões. No ano passado foram US$ 159 bilhões, para cerca de 200 países! Praticamente 8 vezes mais!
Com essa safra, o Brasil ajudará a reduzir a inflação de alimentos no mundo, que explodiu com a pandemia.
E os produtores, como ficam? Os custos de produção dessa safra aumentaram muito, em torno de 35%, dependendo da cultura semeada. E, segundo o FMI, os preços das commodities poderão ter uma redução média de 4,5%. Isso poderá trazer descasamento de renda rural.
Por outro lado, milhões de brasileiros passam fome, por falta de renda. Temas que irão visitar os escritórios de Brasília durante o ano inteiro.
Roberto Rodrigues
Engenheiro agrônomo e coordenador do Centro de Agronegócio na Escola de Economia de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV EESP) e Embaixador Especial da FAO para as Cooperativas. Foi o primeiro Titular da Cátedra de Agronegócios da ESALQ USP. Foi presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras – OCB, Secretário de Agricultura do Estado de São Pauto e Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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