A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) receia que o montante de recursos na safra 2022/23 efetivamente disponível para financiamento de silos e armazéns seja menor do que o anunciado pelo governo no lançamento do Plano Safra 2022/23. Para o Programa para Construção e Ampliação de Armazéns (PCA), a previsão é de R$ 5,13 bilhões. O temor se justifica: no ano-safra encerrado em junho os recursos ficaram aquém do anunciado. Estudo ao qual a reportagem teve acesso, compartilhado pelo presidente da Câmara Setorial de Armazenagem de Grãos (CSEAG) da Abimaq, Paulo Bertolini, mostra que na safra 2021/22 apenas R$ 2,9 bilhões, dos R$ 4,12 bilhões anunciados para o programa, foram realmente emprestados ao setor.
Bertolini atribuiu a redução às restrições orçamentárias do governo, que no início de 2022 suspendeu novas contratações de crédito de uma série de linhas do Plano Safra 2021/22, incluindo do PCA. No dia 13 de junho, bancos puderam reabrir seus sistemas para pedidos de financiamento de várias linhas, mas o PCA, Moderfrota e Prodecoop continuaram de fora. “Desde o ano passado houve restrições (de crédito) que foram diminuindo os recursos disponíveis ao longo da safra e neste ano está acontecendo de novo, o que é muito preocupante para nós”, disse o executivo. “Afeta principalmente os pequenos e médios produtores, porque os maiores têm estrutura nos bancos que facilitam esse acesso aos recursos”, continuou.
O esgotamento de recursos de todas as linhas de financiamento do PCA operadas pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), informado na terça-feira pelo banco, “não surpreendeu” a entidade, segundo Bertolini. “Já deve ter sido a quarta desde o início da safra”, comentou ele, referindo-se a divulgações anteriores do BNDES informando suspensão e retomada de contratações de crédito. A maior parte dos recursos emprestados, avalia ele, estava atrelada a negociações represadas antes do começo da safra 2022/23, já que quase em todo o primeiro semestre a concessão de crédito pelo programa ficou suspensa.
Já a redução do montante de dinheiro do PCA que seria distribuído pela Caixa fará falta, de acordo com Bertolini. Em despacho do dia 15 de agosto, a Secretaria do Tesouro Nacional detalhou cortes e remanejamentos de recursos subsidiados de várias linhas da Caixa, a fim de liberar R$ 1,8 bilhão para o Pronaf (programa focado na agricultura familiar), de um total adicional de R$ 6,54 bilhões. O Pronaf, com isso, passou a contar com R$ 60,1 bilhões.
A Caixa, que teria um total de R$ 1,342 bilhão nas duas linhas do PCA, sofreu um corte de R$ 630 milhões, ficando com R$ 711,238 milhões. Parte dos R$ 630 milhões, R$ 438,537 milhões, foram remanejados para o BNDES, mas o restante, R$ 191,463 milhões, deixou de se ser ofertado ao setor. Para Bertolini, se a situação de restrição orçamentária persistir, o total realmente liberado para o setor para investimentos e silos pode, novamente, não atingir o valor anunciado pelo governo para esta safra.
Com o cenário de recursos escassos, incertezas sobre o cumprimento das promessas de crédito para armazenagem, taxas de juros de mercado altas e previsão de menor rentabilidade dos produtores rurais no ciclo 2022/23, a Abimaq trabalha hoje com a perspectiva de um aumento de 10% no faturamento das empresas do setor, abaixo da média de 30% dos últimos dois anos, e uma manutenção da capacidade de armazenagem adicionada à estrutura do País, da ordem de 5 milhões de toneladas. Os preços dos equipamentos estão bem mais altos do que antes da pandemia, conta Bertolini, dizendo que o custo do investimento por tonelada estática passou de R$ 800-900 em 2019 para R$ 1,5 mil no ano passado.
“Tem um sinal amarelo bastante forte ligado, com a falta de recursos, Selic alta e maior dependência de recurso controlado. Neste ano os produtores estão plantando talvez a safra mais cara da história, com preços de commodities projetados para o ano que vem similares aos da última safra; quando o produtor tem menos renda, a disposição para investir é menor”.
Além dos R$ 832 milhões do PCA que o BNDES já distribuiu e dos R$ 711,2 milhões da Caixa, há, oficialmente, mais R$ 3,586 bilhões, aproximadamente, por liberar. O Banco do Brasil tem a maior parte, R$ 2,2 bilhões. Mas Bertolini faz a ressalva de que, além de não haver divulgação regular das liberações de recursos pelo programa, como ocorre com o BNDES, outros bancos costumam priorizar a oferta a produtores de linhas próprias de financiamento de silos, com taxas de juros mais altas e que acabam proporcionando spread maior do que o recebido nas linhas de governo. “Os bancos tentam repassar os recursos deles, com taxas de 17%-18% ao ano, porque o spread do banco na linha do PCA é baixo. A Caixa tem recursos com taxas de 10%-11%, mas as do PCA são 7,5% a 8,5%”, disse.
Outro problema no acesso aos recursos é a complexidade de se obter aprovação do crédito do programa. De acordo com Bertolini, produtores precisam apresentar aos bancos os orçamentos das obras civis e elétricas envolvidas na instalação de silos ou armazéns, dos equipamentos e sua montagem, documentos de licenças das obras, além das garantias exigidas pelas instituições financeiras. Com menos estrutura do que grandes empresas, eles acabavam não conseguindo providenciar tudo em tempo suficiente para encontrar recursos disponíveis. “Quando ele consegue tudo isso para levar para o banco, já não tem dinheiro”, disse.
A pedido da Abimaq, o governo estabeleceu para a safra 2022/23 um limite de recursos a ser tomado por produtor ou empresa por meio do PCA, de R$ 50 milhões, a fim de evitar que o disputado dinheiro do programa ficasse na mão de poucos. No ciclo 2021/22, entre julho e agosto de 2021, dez grandes tomadores de crédito (nove cooperativas e uma usina do setor sucroalcooleiro) emprestaram R$ 539 milhões ou 75% do valor total concedido naqueles dois meses. “Não há falta de vontade dos produtores de investir ou de capacidade dos fabricantes, e sim de crédito”, disse Bertolini.
Ele chama a atenção para o fato de que, apesar de o montante de recursos do PCA ter aumentado ao longo dos anos, a capacidade de armazenamento estática nas fazendas do Brasil permanece em cerca de 15%. Nos Estados Unidos, 60% da capacidade de estocagem de silos está nas propriedades rurais. Em termos absolutos, o déficit de armazenagem no Brasil atualmente é de aproximadamente 100 milhões de toneladas. Enquanto o País aumenta sua produção em cerca de 10 milhões de toneladas por ano, a capacidade de estocagem cresce somente 5 milhões de toneladas, em média. Apenas para estancar o déficit de armazenagem e impedir que ele aumentasse, seriam necessários investimentos anuais da ordem de R$ 15 bilhões, segundo cálculo da CSEAG.
Fonte: Estadao
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