Vivemos no tempo da Emergência Climática. As alterações climáticas recentes observadas são generalizadas, rápidas e intensificadas sem precedentes em milhares de anos. Vivemos no período de maior aquecimento em mais de 2.000 anos, no período multissecular mais quente dos últimos 10 mil anos.
A última década foi a mais quente já registrada e o que nos preocupa é que, além de ficar 1,5°C acima da média pré-industrial (1850-1900),junho de 2024 torna-se o décimo terceiro mês consecutivo a ultrapassar o limite de 1,5°C do Acordo de Paris.
Indicadores climáticos mostram a evolução a longo prazo de diversas variáveis-chave e são utilizados para avaliar as tendências globais e regionais de um clima em mudança. Dados da NOAA (Agência de Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos) e do Copernicus (componente de observação da Terra do programa espacial da União Europeia) mostram que:
A temperatura global do ar de longo prazo já atingiu 1,3ºC acima dos níveis pré-industriais (1850-1900). Na média dos últimos cinco anos, a temperatura (sobre a terra) do Ártico está 3,3ºC acima dos níveis pré-industriais.
A perda de gelo global foi de mais de 8.200 km³ desde 1976. O manto de gelo da Groenlândia teve uma perda de 5.470 bilhões de toneladas de 1972 até 2022. A extensão de gelo marinho do Ártico foi reduzida em 2.6 milhões de km² desde a década de 1980
O nível médio do mar subiu 10,3 cm desde 1993, a temperatura global da superfície do mar (entre 60ºS e 60ºN) aumentou 0,6ºC desde 1980 e o conteúdo de calor dos oceanos nos 2.000 metros superiores aumentou 0,22ºC desde 1993
A concentração média do metano foi de 1912 ppb (partes por bilhão) em 2023 com taxa de crescimento de 9,91 ppb. Em março de 2024, a concentração desse gás de efeito estufa atingiu 1930,75 ppb
A concentração do dióxido de carbono atingiu 419 ppm (partes por milhão) em média em 2023 com taxa média de aumento de 2,4 ppm por ano desde 2010. Em 2023 essa taxa foi recorde, atingindo 3,36 ppm, superando a maior taxa registrada em 2016 de 3,03 ppm
Aumentos naturais nas concentrações de dióxido de carbono têm aquecido periodicamente a temperatura da Terra durante os ciclos da era glacial ao longo dos últimos milhões de anos. Os episódios quentes (interglaciais) começaram com um pequeno aumento na luz solar incidente no hemisfério Norte devido a variações na órbita da Terra ao redor do Sol e seu eixo de rotação. Atualmente, estamos em um período interglacial, e as temperaturas estão entre 5ºC e 6ºC acima das temperaturas do último período glacial que ocorreu há cerca de 2,5 milhões de anos.
Com base em bolhas de ar presas em núcleos de gelo e outras evidências paleoclimáticas, sabemos que durante os ciclos da era glacial dos últimos milhões de anos, o dióxido de carbono atmosférico variou de aproximadamente 170 ppm até 300 ppm (máximo). Em junho de 2024 atingiu 426,91 ppm, a maior concentração do dióxido de carbono desse mês desde o início das medições. À medida que as emissões continuam a aumentar os recordes climáticos são quebrados.
Impactos da crise climática recente no Brasil
Alguns exemplos de tragédias climáticas recentes no Brasil devido a chuvas severas ocorreram em Minas Gerais, em dezembro de 2021, em São Paulo, em janeiro de 2022, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2022, em Pernambuco, em maio 2022, em São Sebastião (SP), em fevereiro de 2023, no Rio Grande do Sul, em setembro de 2023, no Espírito Santo, em março de 2024, e novamente no Rio Grande do Sul, em maio de 2024. Somente nesses oito exemplos, 714 vidas foram perdidas, milhões de pessoas foram afetadas e os prejuízos econômicos são da ordem de bilhões. E isso mostra o tamanho dos impactos que já sofremos.
Para garantir a proteção da população brasileira frente à emergência climática, são necessárias novas e robustas disposições governamentais para gerar mais energia limpa e fazer progressos na eliminação das emissões de dióxido de carbono principalmente nos setores de mudança de uso da terra, desmatamentos, degradação dos biomas e agropecuária.
A transição energética é urgente. Acelerar e expandir a rápida descarbonização do setor elétrico durante a próxima década é essencial. O Brasil, com seus estados, cidades, sociedade civil e os setores privado e financeiro, deve tornar-se ainda mais ambicioso, deve acelerar políticas e práticas de adaptação, aumentando a resiliência em todos os setores.
Nosso país deve aperfeiçoar sistemas de previsão e alertas de desastres causados por extremos climáticos e proteger as populações em áreas de risco e as populações mais vulneráveis. Deve zerar desmatamentos, degradação florestal e incêndios da vegetação na Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Pampas e Mata Atlântica. Nosso país tem um enorme potencial para emergir como líder global implementando uma economia orientada para a biodiversidade e tornar-se uma potência global da sociobiodiversidade.
Por: Carlos Nobre Fonte: Ecoa UOL
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