O hidrogênio verde desponta nos próximos anos como uma das principais promessas de energéticos para a descarbonização da economia. Com uma matriz em que renováveis como hidrelétricas, solares e eólicas respondem por mais de 80% da eletricidade gerada, o Brasil desponta como potencial força no mapa geopolítico energético mundial.
A competitividade do país em energia renovável pode conferir uma vantagem na produção de hidrogênio verde, porque o custo da energia renovável é de 70% do custo da produção do energético. Estudo da BloombergNEF projeta o país como um dos únicos capazes de oferecer hidrogênio verde a um custo inferior a US$ 1 por quilo até 2030. O Brasil pode se tornar um dos maiores produtores mundiais devido ao baixo custo de seus recursos naturais e de sua rede de energia limpa e integrada, que exigem menor investimento em bens de capital. Para completar esse cenário favorável, a demanda doméstica por hidrogênio verde pode representar cerca de 60% da oferta total de energia, segundo estudo da McKinsey.
Isso cria um mercado adicional potencial de até US$ 5 bilhões e US$ 20 bilhões em 2030 e 2040, respectivamente. Como combustível e matéria-prima industrial, o hidrogênio verde contribuirá para descarbonizar a matriz energética mundial, atuando como transportador e criando uma oportunidade de investimento de US$ 200 bilhões no Brasil ao longo dos próximos 20 anos, de acordo ainda com o estudo da McKinsey.
Estudo da Capgemini com 500 executivos de empresas de concessões de serviços públicos e 360 executivos de grandes consumidores aponta que as empresas de energia e utilities esperam que o hidrogênio com baixo teor de carbono responda por 18% do consumo total de energia até 2050. A maioria das empresas avalia que o hidrogênio de baixo carbono contribuirá, em longo prazo, para atingir as metas de emissões e sustentabilidade.
Um dos impulsionadores é a União Europeia (UE), com destaque para a Alemanha, que pretende realizar no segundo semestre um leilão de contratação do energético. A ideia do governo alemão é contratar ? 900 milhões em acordos de dez anos de hidrogênio verde a ser importado de países que não estejam na União Europeia e na Associação Europeia de Livre Comércio.
O governo alemão ainda discute alocar ? 3,5 bilhões para a realização de novas rodadas de leilões para a contratação até 2036 de hidrogênio verde. Na Alemanha, companhias aéreas trabalham com meta de ter pelo menos 5% de combustível verde abastecendo as aeronaves na próxima década. O bloco europeu selecionou o porto de Roterdã, na Holanda, como estratégico na importação. O maior terminal europeu tem participação acionária no porto do Pecém, no Ceará. Mais de R$ 20 bilhões em memorandos de entendimento de investimento já foram assinados com o governo cearense.
Recentemente, a alemã Thyssenkrupp abriu capital de sua divisão de hidrogênio verde, a Thyssenkrupp Nucera, na Bolsa de Valores de Frankfurt, com cotação de ? 2,5 bilhões. Para Paulo Alvarenga, CEO da thyssenkrupp South America, o Brasil tem uma janela de oportunidade para ser aproveitada, usando o mercado doméstico como impulsionador. O Brasil é um dos líderes mundiais em agroenergia, mas importador de fertilizantes.
A amônia verde é produzida a partir de hidrogênio verde. Com ela, a descarbonização da cadeia do alimento e os fertilizantes verdes podem virar uma realidade, começando pelas fábricas até chegar à mesa do consumidor final. O investimento na amônia verde seria uma forma de acelerar cada vez mais uma economia comprometida com o clima e o futuro do nosso meio ambiente.
A tecnologia não movimenta apenas o setor agrícola e químico. No início de agosto, a Fortescue apresentou seu primeiro estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental para licenciar um projeto no porto do Pecém. Com isso, a multinacional australiana se tornou a primeira empresa no Brasil a apresentar esse estudo para o desenvolvimento de um projeto de hidrogênio verde em larga escala, com potencial para produzir 837 toneladas de hidrogênio verde por dia a partir do consumo de 2.100 MW de energia renovável. O projeto pode ser implantado em três fases em uma área de 100 hectares e com expectativa de empregar mais de 5 mil pessoas na construção do empreendimento. O investimento pode ficar em R$ 20 bilhões.
No ano passado, a ArcelorMittal anunciou a aquisição da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) por US$ 2,2 bilhões. Além de ampliar sua produção no Brasil, a aquisição teve na energia um de seus pilares, com a intenção de “capitalizar o significativo investimento planejado de terceiros para formar um hub de eletricidade limpa e de hidrogênio verde em Pecém”.
A ArcelorMittal está de olho no hub de hidrogênio verde de Pecém, uma parceria entre o Complexo Pecém e a Linde, que almeja produzir até 5 GW de energia renovável e 900 quilos tonelada (Kt) por ano de hidrogênio verde em diversas fases. A primeira fase, que a parceria atualmente espera estar concluída ao longo dos próximos cinco anos, tem como objetivo a construção de 100-150 MW de capacidade de energia renovável.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), anunciado em agosto, prevê investimentos públicos e privados na produção de combustíveis renováveis e em projetos de captura e armazenamento de carbono, além de estudos para a implantação de projetos de hidrogênio verde e a conversão de refinarias de petróleo em biorrefinarias. O investimento total previsto é de R$ 26,1 bilhões, sendo R$ 20,2 bilhões até 2026. A lista inclui a construção de oito usinas de etanol de segunda geração, sendo sete no Estado de São Paulo e uma em Mato Grosso do Sul. Os investimentos previstos para essas obras são de R$ 9,5 bilhões, no entanto, totalmente privados.
Fonte: Valor Econômico
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